À imagem de Lima, o meu dia hoje foi um frenesim. Acordei às 8 da manha, tomei o pequeno almoco (e so agora me apercebo que essa foi a minha unica refeicao do dia) na companhia de outros viajantes e apanhei um minibus até Miraflores, levado pelo objectivo de pagar o voo que encontrei entre Lima e Arequipa. Assim o fiz. Na noite anterior tinham telefonado para o The Point a pedir que eu enviasse por fax uma fotocopia do meu passaporte, isto enquanto eu jantava em casa do Hector. Fi-lo e telefonei para o numero que me deram, mas sem resposta. Fui ligando sempre que surgia a oportunidade. Mas sempre sem efeito.
Estive neste impasse até as duas da tarde, sempre na expectativa de conseguir falar com a Iberia e alcancar finalmente a minha bagagem, altura em que, cansado de esperar e decidido a agarrar o boi pelos cornos, me meti num taxi e fui eu proprio ao aeroporto. Tinha almocado com o Neil e o Luke, dois backpackers australianos que escolheram instalar se em Lima por mais que um par de dias e assim comecaram a trabalhar no hostel em troca de alojamento e comida, o que ja fazem ha cerca de um mes.
Foi quando me meti no taxi que se descontrolou o rodopio do meu dia. A caminho do aeroporto meti na cabeca que depois de buscar o que ha muito me deveria ter sido entregue, iria ao hostel transferir o que me iria ser necessario nos proximos dias para a minha mochila pequena, e seguir para agencia Suyos para apanhar o autocarro ate Pisco. É em Pisco que estou agora, enquanto recordo o dia passado, desde as duas da tarde quase sempre sentado entre um taxi e um autocarro, e vejo na televisao peruana noticias sobre a liga dos campeos e a vitoria do Benfica.
Foi o Victor, um peruano que divide o seu ano entre as pescas em Pisco e as corridas de taxi em Lima, que me levou ate ao aeroporto, depois de volta ate ao hostel, e finalmente do hostel ate ao terminal de autocarros. Esteve quase tres horas comigo, ora esperando por mim a porta do aeroporto e do hostel, ora enfiados os dois nas complicadas estradas da capital peruana. Fiz um pacto com ele e consegui poupar alguns soles. O que supostamente me iria sair por 100 soles (se fizesse cada trajecto separadamente), sugeri que ele mo fizesse a 75, ao que ele aceitou. Era bom para ambos. A ele fazia-lhe o dia, a mim, poupava me tempo, que ja nao tinha. Acabamos por ir sempre a conversar e senti uma empatia tao grande por ele que acabei por dar lhe nao 75, nao 100, mas 110 soles. Prontamente disse que nao, que tinhamos concordado 75, e insisti, explicando lhe que aqueles 35 soles a mim nem me pagavam um jantar em Lisboa, enquanto para ele eram bom dinheiro. Alem de que era um bom premio pela paciencia que teve no percurso todo e pelo muito que me ensinou, sem sequer ter dado por isso.
Quem diz que nao viu miseria em Lima, viu pouco. Foi esse o meu caso. A cidade e tao grande, que pensei que o muito que ja tinha visto era uma boa amostra para toda a cidade. Enganei me grotescamente. Nas voltas que dei hoje pela cidade, e à saida de Lima, ja de autocarro, fui confrontado com favelas gigantescas. Foi especialmente angustiante mergulhar nas periferias de Lima, em direccao a Pisco. Contei, sem exagero, meia hora de caminho em que o cenario para que olhava nunca deixou de ser identico aquilo que nos estamos habituados a chamar favela, enquanto os peruanos a meu lado assistiam ao Pirata das Caraibas nos ecrans do autocarro, demasiado acostumados aquela realidade que a mim tanto me impressionou.
Durante as restantes 4 horas de viagem, nunca deixei de pensar sobre o que tinha acabado de ver, enquanto o shuffle do meu ipod se comportava como poucos na seleccao musical, mas por outro lado me lembrava das coisas que as vezes tanto precisamos em portugal e que, perante aquele cenario, claramente deixavam de ter importancia.
Ontem fui recebido como um rei em casa do Hector. Jantei com ele e os dois irmaos, e tambem com um amigo que, apesar de Peruano, vive na Holanda ha 15 anos. Foi em Tilburg que se conheceram.
Conversamos sobre variadissimos temas, contaram me historias sobre assaltos em Lima que preferia nao ter ouvido, serviram me um licor tipico limeño e jantamos as delicias peruanas que a mami dedicadamente preparou. Foi bom ter tido a oportunidade de ter sido recebido em casa de uma familia peruana, o que me ajudou a perceber um pouco melhor a dinamica da cidade e o crescimento louco que a mesma sofreu durante o ultimo seculo.
Alem de tudo isto, obrigaram me a vestir umas meias por causa do frio e deram me mais dicas sobre o peru.
Muito agradecido, voltei de taxi para o hostel, onde antes de ir dormir me disseram que tinha de enviar o fax para a Iberia.
O The Point foi, sem duvida alguma, o hostel onde mais gostei de ter ficado ate hoje nas minhas viagens. Como nao e muito grande, rapidamente se fica a conhecer todo o staff do hostel e todos os hospedes, especialmente no meu caso visto que falei sempre muito com eles por causa da bagagem perdida. Quando me viram chegar de mochila as costas fizeram uma festa enorme e ja todos sabiam o meu nome, e eu o deles. À maneira como fui recebido ajudou o facto de ter dito que vinha da parte do Boris, um portugues que la trabalhou durante 4 meses e ficou conhecido como The Animal, va se la saber porque, e uma autencia lenda viva daquele hostel. Existem dois tipos de pessoas a trabalhar no hostel sem ser o Franz, o gerente: os peruanos que sao os que la trabalham ha mais tempo e ainda do tempo do Boris (que ja la deixou de trabalhar ha dois anos se nao me engano), e os backpackers que, talvez por se apegarem a hospitalidade e ao clima do hostel, decidem ficar ai a trabalhar em troca de alojamento, e é ai que se tornam backployees. E o caso dos australianos. À saida, ficou a promessa que voltava na noite de 17, uma sexta feira, para me despedir deles e para irmos todos curtir a juerga de Barranco ate de madrugada.
Ja com um peso nas palpebras me despeco, visto que amanha acordo as 6 e 30 para fazer um tour pelas Islas Ballestas e pela Reserva Natural de Paracas. Anseio por um ceu azul, que me faca desanuviar das imagens cinzentas que vi a saida de Lima e aproveitar da melhor maneira as paisagens que amanha me esperam.
Depois sigo para Huacachina, um oasis no meio das dunas, onde irei, entre outras coisas, fazer sandboard e descansar. Volto dia 17 para Lima, onde conto conseguir postar fotografias no blog, ter a primeira grande noite de farra e acordar a tempo do voo para Arequipa no dia seguinte, dia em que me juntarei aos meus companheiros de viagem, a quem decidi fazer uma surpresa: à chegada ao hostel irao ter tres coronas fresquinhas a sua espera! Por minha conta, é claro.
P.S - É verdade que nao custa muito ser generoso quando transaccionamos em soles mas, mesmo assim, fica a ideia e o gesto.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
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5 comentários:
Olá Miguelote!
Óptimo que tudo esteja a correr bem!
Vejo que a Iberia te perdeu a mochila...
E nada de retirar amostras de locais com valor patrimonial! o que acontecerá se todos fizerem isso?
Beijocas.Se precisares de algo que possamos ajudar, diz.
Tiazona!
costinha, soube agr do terramoto ai no peru. Mal possas da noticias q a malta esta preocupada. Grande abraço e espero que esteja tudo a correr bem.
Tivemos,logo pela manhã, noticias do Miguel...primeiro por uma israelita a quem pediu para nos falar e depois ele próprio. Creio que o seu telemóvel ainda não estará operacional porque não é dele que tem falado.
Ele descreverá o que está a viver mas para já apenas a notícia que sabemos que nada lhe aconteceu.
Estava a deslocar-se em taxi quando o tremor de terra aconteceu e começou a ver tudo a cair ao seu lado ... mas está bem.
Também sabemos que os seus amigos, que terão chegado a Lima numa hora próxima do tremor de terra, também se encontram bem.
DC
Olá Miguel,
Não consigo falar contigo mas, sei que estás bem.
O nome do hotel onde eles estão é o THE POINT perto do aeroporto; penso que já sabem que queres ir ter com eles.
Assim que possas fala para mim.
Bjs
Grande Costa,
Já sei que tá tudo bem, desta é que não tavas á espera aposto..!
Continua a relatar e boa sorte para o resto da viagem...!
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