segunda-feira, 17 de setembro de 2007

The End

Estao a ver este video?

Para a maioria das pessoas isto sera apenas mais um golaço.

Para mim nao.

Carreguem no play mas antes ponham as colunas no maximo, sff.

Vejam como ao segundo 2 do video o defesa do Lanus pontapeia a bola que depois haveria de cair nas maos erradas. Para tudo. Decorem este momento.
Voltemos atras.

Nao podia arriscar uma passagem stressante pelo aeroporto de Buenos Aires. Era inevitavel sair mais cedo do jogo do River. 15 minutos mais cedo porque, de outra forma, as portas fechavam e assim o permaneceriam ate 40 minutos depois do apito final, por motivos de segurança. Era ver o jogo todo ou apanhar o avião. As cartas estavam na mesa.

Voltem ao video. Estao a ver o minuto de jogo? 31 e qualquer coisa, da segunda parte.

Vejam o segundo 2. Foi nesse pontapé tosco que eu fiz o que era inevitavel. Virei costas ao jogo e segui rumo ao tunel de saida.

Exactamente 10 segundos e alguns degraus depois, enquanto saia sorridente da minha ultima cena pela america do sul, aquele grito colectivo, por ser tao repentino e cortante, fez me perceber que estava perante um grande golo, do River, claro.

Ainda voltei atras, numa reaccao estupida porque ja era tarde demais, o golo ja nao volta atras, mas ainda gozei o ambiente que se vivia.

Pode parecer irritante perder um golo assim por tao pouco (o que vos acabei de contar e rigorosamente verdade, sem tirar nem por), mas a mim soube me como poucos.

De tudo aquilo que vou deixar de viver depois daquele selo de saida com sabor a soco no estomago,este golo e provavelmente a unica coisa que me dara o privilegio de saber rigorosamente aquilo que perdi.

(E nem o perdi porque apesar de nao ter visto a bola entrar nas redes levada pelo embalo do Fernando Belluci, ouvi-o como mais ninguem o ouviu nem nunca ouvira, atraves do ecoar do grito que invadiu de uma so assentada aquele tunel que nao fosse eu e estaria vazio).

Mas como dizia, nao foi irritante. Na minha cabeca, ja cansada (e quando assim e ela devaneia um pouco mais) os cerca de quarenta mil adeptos que festejaram, na verdade faziam no comigo, assistiram em directo ao fim destas cinco semanas e celebraram no comigo aquele derradeiro momento, digamos que ajudados pelo passe de Santi, o chileno, e do "toma la disto" do Belluci.

Volto a portugal sem dinheiro mas com um saco de roupa suja e outro de historias para contar. Volto com memorias, umas boas outras melhores, e mais agarrado a vida, talvez por ter sentido a morte e por ter visto outras vistas, e outras vidas.
Volto com vontade de mais, mas mais importante do que tudo, volto motivado para a vida que me espera em Portugal e com as memorias que felizmente terei a sorte de poder partilhar com a Mariana, a Matilde e o Pinto. (E com a Joana, a Rita e os outros portugueses nos ultimos dias!)

Porque, como dizia o mestre na primeira pagina de um dos tres livros seus que comprei (em espanhol, para melhora lo):

"La vida no es la que uno vivio, sino la que uno recuerda y como recuerda para contar la"

Este blog fica aqui, a deriva neste mundo para sempre. A nao ser que o google se lembre de comecar a cobrar rendas.

Até

domingo, 16 de setembro de 2007

Os ultimos dias

Pedalar naquela bicicleta cor de laranja foi das ultimas coisas que fiz em Buenos Aires, que nessa manha tinha as ruas praticamente vazias, nao fosse ser Domingo e estar de chuva.
Fui a esquadra tratar de assuntos pendentes e depois de volta para o Hostel para chegar a tempo do autocarro para o jogo do River.

Nos dias anteriores, mais voltas pela cidade, compras, mais boa comida e vida nocturna e ainda tempo para ver uma exposicao que tinha perdido em Portugal: Bodies. Por metado do preco.
Como me tinham dito, vale muito a pena. Mas mais que tudo, saltou me a ideia de como somos un animal estranho: que raio de animal se fecha numa sala com alguns demais a olhar se por dentro e ver a maneira como o sistema nervoso central avisa o cerebreo que o nosso dedo esta a tocar no teclado. Ou quantos musculos mexemos quando piscamos o olho. Ou que temos 96 mil quilometros de vasos sanguineos. Enfim, uma grande quantidade de curiosidades que no fundo mostram que conhecemos o nosso corpo. Sabemos como funciona esta maquina.
Felizmente, espero e acredito, o resto - a alma, a inteligencia, os sentimentos - nunca dominaremos por completo - ate por que caso contrario isto nao tinha piada nenhuma.

Passei assim os ultimos seis dias na viagem: uma vida mais cosmopolita, mais diversao, mais saidas a noite e menos do resto de que ja tenho tantas saudades porque isso e impossivel encontrar em Portugal e entraram no meu imaginario muitos lugares e pessoas. Mesmo aqueles lugares por onde so passei, como La Serena, em que estive menos de cinco minutos e que observei desde o outro lado da janela do autocarro. Mesmo com esses lugares, tenho uma historia, entraram de alguma maneira no meu imaginario.

Vou me despedir deste blog, mas antes, vou contar vos a historia de como se passou o fim, no proximo e ultimo post. ate ja