segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Lima

Eram sete da manha quando a luz do dia me acordou e eu, convencendo-me que ja nao ia conseguir dormir mais e sabendo que o melhor a fazer era aproveitar o dia, saltei da cama e vesti-me. Ao sair, cruzei-me com dois ingleses com quem tinha jantado na noite anterior, vindos da pelos vistos animada noite de Barranco. Como sempre, nao aproveitei o pequeno almoco mas desta vez porque era demasiado cedo.

Lima amanheceu em tons de cinzento e assim permaneceu durante o resto do dia, como aliás é hábito nesta altura do ano, com as capas dos jornais diarios a destacarem, sem excepcao, a estreia do Pizarro pelo Chelsea. Depois de ter dado umas voltas por Barranco, segui de autocarro para Miraflores, outro bairro turistico, e mais tarde outra vez de autocarro para "Central Lima", onde almocei num restaurante peruano muito antigo chamado Queirolo, perto da "Plaza de las Armas", o marques ca do sitio (aconselho vivamente para quem precisar de matar a fome, mesmo com boa comida as doses sao industriais, por 12 soles está claro). Só para dar uma ideia da dimensao desta cidade, "Central Lima", que como o nome indica é o centro (também ele enorme) da cidade, fica a 11 kms de Barranco e a 7 de Miraflores. E eles sao uma especie de bairros da "Metropolitan Lima". Foi por ai que deambulei durante todo o dia e me dediquei a tentar compreender melhor esta caotica cidade. So para terem uma ideia, devo ter andado mais hoje por Lima que o meu manito Sampaio durante o seu Erasmus todo por Barcelona, nao que isso seja grande coisa mas sim porque sempre que surge a oportunidade nao consigo deixar de fazer pouco dele.


Nestes tres bairros encontrei policias e segurancas a cada esquina e sao tantas as pessoas que circulam nas ruas que nem por um momento me senti inseguro. A unica vez que “sai do mapa”, esse sentimento de seguranca desapareceu imediatamente. A medida que andava em direccao a agencia onde me ia informar sobre o transporte para Pisco, ia vendo cada vez menos pessoas, mas mais pessoas com ar de quem quer roubar um gringo. Procurei o primeiro sitio de confianca que encontrei, e entrei. Era um banco e o seguranca aconselhou me a apanhar um taxi, ja que para chegar ao meu destino tinha de atravessar o bairro “La Victoria” onde, segundo ele, seria assaltado sem sombra de duvida. Assim fiz. A descrepancia de policiamento e de movimento é tao grande que facilmente se percebe os Do´s e os Dont´s desta cidade.
Informar me sobre a viagem para Pisco foi a ultima coisa que fiz antes de voltar ao Hostel, onde cheguei ja eram 4 da tarde para descansar e tomar um bem merecido duche quente.

Lima nao e uma cidade bonita físicamente, alias, nunca estive numa cidade tao feia mas sem duvida que lhe encontrei encanto e um outro tipo de beleza, vindo da alma, e nao do corpo. Admirei os parques e sobretudo os mercados da cidade onde basicamente se vende de tudo e claro, a bons precos. Gostei também dos Peruanos. Sao um povo simpatico, sempre dispostos a ajudar e a dar indicacoes e também a vender-nos os seus mais variados servicos: de taxis, minibuses, restaurantes, lojas de internet e de chamadas, quiosques que vendem doces, salgados e bebidas, engraxadores de sapatos, agencias de cambio, chovem-nos a toda a hora convites simpaticos e sorridentes, na esperanca que ai gastemos alguns soles. Encontrei também no frenezim e caos permanente das estradas um certo encanto, com raizes de capital sul americana.

Nas estradas o vai e vem de taxis e minibuses e constante. E indescritivel a quantidade de carros que circula nesta cidade. É por culpa deles que temos sempre a sensacao de estar com um tubo de escape a cuspir-nos gases para as narinas. É também gracas aos carros que rapidamente nos habituamos ao som das buzinas. É uma das muitas constantes desta cidade.

A insegurança que em Lisboa achei que ia encontrar quase sempre em Lima, só a encontrei quando sai do mapa e sempre que andei de minibus. Sem duvida que o perigo é eminente, tanto por culpa do transito frenetico como pela idade e o estado de saude dos veiculos - dos milhares e milhares de carros que por mim passaram, os mais modernos (e ainda assim escassos) nao tinham menos de tres anos. Foi neste contexto que li nas costas de alguns autocarros a frase "Jesus en ti confio". Nao admira.

Apesar de raras vezes ter encontrado miséria, encontrei muitas vezes vidas dificies. Muitos Limeños estao no desemprego e dos que nao estao, nota-se que muitos tem trabalhos precarios e vivem numa base de chapa ganha, chapa gasta. Parecem depender da sorte que lhes reserva o decorrer de cada dia. À conversa com um taxista, fiquei a saber que ele ganhava 30 soles por dia. 30 soles sao menos de 10 dolares. Sao menos de 8 euros. E trabalhava durante todo o dia, alem de se deslocar uma hora e meia todos os dias para ir trabalhar. Ao ir tomando conhecimento de estas e de outras realidades, torna se impossivel nao dar gorjetas. O que para mim nao e nada, a eles faz-lhes toda a diferenca.

Hoje a noite vou jantar com um limeño, o Hector, amigo da Ines Black, que simpaticamente me convidou a jantar em sua casa e que sempre me ajudou e respondeu as minhas inquietacoes sobre a viagem. Conheceram se em Tilburgo durante os seus Erasmus mas agora a sua amizade esta inevitavelmente separada por um Oceano e por vidas diferentes mas unida pelas memorias dos bons tempos passados, enquanto espera pacientemente por um eventual encontro, um dia. Sao assim as amizades "erasmus". Ingratas em certa medida.

O hostel e um espectaculo. Como sempre, e uma especie de territorio neutro internacional. Num hostel como este, e claramente indiferente se estamos em Lima, Lisboa ou Pequim. O clima e o mesmo: conversas e cervejas partilhadas e irrepetiveis com pessoas que, como nos, tem gosto em conhecer um pouco mais do mundo. Ainda assim, este Hostel distingue se pelos convivios que proporciona, como por exemplo, jantares todas as noites no Bar, torneios de Ping Pong e snooker, e ainda passam filmes na sala de estar. Quer pelo conforto, quer pelo ambiente, quer pela localizacao, aconselho claramente a quem vier a Lima,

Confiando que as minhas malas chegam hoje, parto sigo para Pisco onde me vou passear por uma reserva natural, o Parque Nacional de Paracas.
Mas como dizia um slogan do bes há uns tempos, é óbvio que tenho um Plano B: se as malas teimarem em nao aparecer amanha vou com o Hector conhecer outras zonas menos turisticas de Lima, mas desta vez em seguranca, e também a umas ruinas incas que ficam a cerca de uma hora de Lima.

Na minha ainda ignorancia como viajante pela america do sul, saio com a sensacao que Lima foi o ponto de partida perfeito para esta viagem.
Com a notoria sensacao que escrevi demasiado, mas ainda com tanto por dizer, um hasta luego

1 comentário:

g disse...

invejo.te bastante pelo facto de ja teres passado pelo que eu vou passar no proximo semestre e estares neste preciso momento num sitio em que, ao ler o que escreves, me apetecia bastante estar.. desde já ficam o meu desejo do melhor do que possa vir e um grande abraço deste teu amigo!