Felizmente nao choveu e conseguimos chegar a La Paz, ainda com tempo suficiente para dar umas voltas pela cidade e visitarmos melhor o mercado negro e o mercado das bruxas antes de apanharmos o autacarro para Potosi.
Depois de Potosi e de Sucre, vamos passar tres dias no salar de Uyuni e de Sao Pedro de Atacama passamos directamente para Santiago, onde vamos visitar a xampas que la anda a fazer erasmus e onde espero ainda ter tempo para ver Valparaiso.
Depois sao 4 dias em Buenos Aires and its over !
Ainda faltam 15 dias de viagem mas tenho alguma pena de ja conseguir ver o fundo do tunel.
Tenho saudades do Domingos, o nosso guia em Rurrenabaque. Ele nem era um gajo de muitas palavras, era daqueles que preferia accao. Durante a viagem de jeep ate Santa Rosa, nem uma palavra, nem aquele tipo de conversa que os guias costumam fazer quando ainda nao tem nada para dizer, como apresentar as pessoas e perguntar de onde sao. Ele nao tinha paciencia para esse tipo de merdas. Era simpatico, mas de uma simpatia bruta. Gostava de gozar com os "turistas", como nos chamam ali. Quando lhe perguntam se e seguro mergulhar para nadar com os golfinhos cor de rosa, responde que sim, que os jacares nao costumam nadar nas mesmas aguas que os golfinhos, mas que ha uma primeira vez para tudo.
Estava ali para nos guiar de barco, para nos mostrar animais e para nos falar deles. E o seu trabalho. Da lhe gozo apanhar cobras e jacares e trata os como se de um filho se tratasse. Alias, naquela comunidade de 30 e tal pessoas que partilham as aguas do rio Yucuma, entre guias, cozinheiros e donos de bares, o maior e aquele que apanha os maiores jacares, as maiores anacondas, que conseguiu ver as coisas mais impressionantes. Nao e o melhor aluno, nem o gajo que bebe mais rapido, nem o que saca mais miudas, nem o que tem o melhor emprego, nem o que viaja mais. E foi a apanhar um jacare um bocado maior do que aquele que apanhou connosco que quase ficava sem o braco direito. Estava com sete turistas no barco. A esvair se em sangue, e com o braco pendurado, guiou com o braco esquerdo ate Santa Rosa, como se nada fosse.
Era do genero machao. Do tipo de gajo que nao pede desculpa. Que fica demasiado chateado quando faz asneira. Quando se atrasou meia hora na manha em que fomos ver o amanhecer chegou com cara de poucos amigos, via se que estava irritado com ele proprio, mas teve demasiado orgulho para falar disso e fingiu que nada se passou.
Mas houve uma noite em que nos mostrou o seu outro lado. Sentamo nos a mesma mesa depois do jantar e bebemos cervejas juntos. Falou nos da sua vida. De como aos 15 anos foi para La PAz para jogar futebol, de como se perdeu como muitos entre copos e saidas a noite. De como se casou e teve duas filhas, a primeira aos 20 anos e como depois se viria a separar da mulher. Falou, com um sorriso verdadeiro, dos bons momentos que passou com os filhos e dos que ainda passa quando consegue estar com eles. E com um orgulho verdadeiro, disse nos que eram dos melhores alunos do curso que so podem frequentar porque ele anda ali, dia apos dia, a guiar turistas como nos. Riu se que nem um perdido quando se lembrou da vez em que, farto de uns Israelistas que nao compreendiam que para ver tudo aquilo que fiz no panfleto da agencia dependem da natureza e da sorte, os deixou na margem do rio, longe do acampamento e seguiu o seu caminho. Gosto de pessoas assim. Que se sentem. Que nao toleram tudo. Que se respeitam.
Na viagem de volta, perguntei lhe se lhe apetecia comecar logo a fazer outro tour ou se lhe preferiaa descansar uns dias em Rurre. Disse me que preferia comecar outro tour, que gosta do que faz. E pareceu me honesto. Ali sente se em casa. Foi ele que escolheu esta vida. Rurrenabaque e as pampas nao e tudo o que ele conhece. Ja viveu, estudou e trabalhou em La Paz, mas simplesmente prefere aquela vida.
As vezes faz me pena ver que ha pessoas que levam a vida que levam porque e assim, porque tem de ser. Ou nao conhecem mais nada, ou estao demasiado agarrados ao convencional.
Sinto me um priveligiado. Sou eu que vou escolher a minha vida. Posso ate acabar numa consultora a matar me a trabalhar durante 3 anos, mas se por acaso o fizer e for aceite, claro, terei a tranquiliade e a paz de olhar para tras e sentir que fui eu que o escolhi. Nao quero ser escolhido. Nao quero que seja o destino a decidir por mim. E bom ver outras vidas. Pessoas que seguem outros caminhos.
Quando for a altura de escolher o meu caminho terei mais opcoes. Alargo os meus horizontes. Desformato a minha mente. Nao faco o que faco porque sim. Vou poder pesar tudo numa balanca e depois disso seguir aquilo que acho que me vai fazer mais feliz. Ate me posso enganar, mas pelo menos nao sera tanto por falta de informacao.
E vendo a vida dos outros, vou vendo tambem o que e mais importante na minha. E bom viajar. Estamos vivos. Vemos com olhos de ver.
Que sorte, tenho mais 15 dias de viagem pela frente!
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
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