Estao a ver este video?
Para a maioria das pessoas isto sera apenas mais um golaço.
Para mim nao.
Carreguem no play mas antes ponham as colunas no maximo, sff.
Vejam como ao segundo 2 do video o defesa do Lanus pontapeia a bola que depois haveria de cair nas maos erradas. Para tudo. Decorem este momento.
Voltemos atras.
Nao podia arriscar uma passagem stressante pelo aeroporto de Buenos Aires. Era inevitavel sair mais cedo do jogo do River. 15 minutos mais cedo porque, de outra forma, as portas fechavam e assim o permaneceriam ate 40 minutos depois do apito final, por motivos de segurança. Era ver o jogo todo ou apanhar o avião. As cartas estavam na mesa.
Voltem ao video. Estao a ver o minuto de jogo? 31 e qualquer coisa, da segunda parte.
Vejam o segundo 2. Foi nesse pontapé tosco que eu fiz o que era inevitavel. Virei costas ao jogo e segui rumo ao tunel de saida.
Exactamente 10 segundos e alguns degraus depois, enquanto saia sorridente da minha ultima cena pela america do sul, aquele grito colectivo, por ser tao repentino e cortante, fez me perceber que estava perante um grande golo, do River, claro.
Ainda voltei atras, numa reaccao estupida porque ja era tarde demais, o golo ja nao volta atras, mas ainda gozei o ambiente que se vivia.
Pode parecer irritante perder um golo assim por tao pouco (o que vos acabei de contar e rigorosamente verdade, sem tirar nem por), mas a mim soube me como poucos.
De tudo aquilo que vou deixar de viver depois daquele selo de saida com sabor a soco no estomago,este golo e provavelmente a unica coisa que me dara o privilegio de saber rigorosamente aquilo que perdi.
(E nem o perdi porque apesar de nao ter visto a bola entrar nas redes levada pelo embalo do Fernando Belluci, ouvi-o como mais ninguem o ouviu nem nunca ouvira, atraves do ecoar do grito que invadiu de uma so assentada aquele tunel que nao fosse eu e estaria vazio).
Mas como dizia, nao foi irritante. Na minha cabeca, ja cansada (e quando assim e ela devaneia um pouco mais) os cerca de quarenta mil adeptos que festejaram, na verdade faziam no comigo, assistiram em directo ao fim destas cinco semanas e celebraram no comigo aquele derradeiro momento, digamos que ajudados pelo passe de Santi, o chileno, e do "toma la disto" do Belluci.
Volto a portugal sem dinheiro mas com um saco de roupa suja e outro de historias para contar. Volto com memorias, umas boas outras melhores, e mais agarrado a vida, talvez por ter sentido a morte e por ter visto outras vistas, e outras vidas.
Volto com vontade de mais, mas mais importante do que tudo, volto motivado para a vida que me espera em Portugal e com as memorias que felizmente terei a sorte de poder partilhar com a Mariana, a Matilde e o Pinto. (E com a Joana, a Rita e os outros portugueses nos ultimos dias!)
Porque, como dizia o mestre na primeira pagina de um dos tres livros seus que comprei (em espanhol, para melhora lo):
"La vida no es la que uno vivio, sino la que uno recuerda y como recuerda para contar la"
Este blog fica aqui, a deriva neste mundo para sempre. A nao ser que o google se lembre de comecar a cobrar rendas.
Até
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
The End
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5 comentários:
Foi uma bela viagem!
Visto que agora estás paranóico com números e segundos recomendo o visionamento do filme "The Number 23" de Joel Schumacher.
Abraços
mãe de um bloguista que esta no Chile, vou gostar de ler o que escreveu sobre a sua aventura. Para já, gostei de ler a descrição do golo, sentido no túnel... desejo-lhe muitas felicidades, e dinheiro para outras aventuras
Espero que sim (outras aventuras!) se calhar e um bocado chato ler o blog todo ... as vezes excedi me!palavra puxa palavra e tal. mas se so puder ler um, o "viver para conta la". A mim e o que me diz mais! e as fotografias claro!
obrigado
Acabei agora de ler (quase tudo, mesmo!). Vi as fotografias, juntei uma cara às palavras escritas por si... e fiquei com lágrimas nos olhos e no coração, ao ler o que escreveu sobre o sismo e as pessoas com quem o viveu. Fico contente por estar vivo para contá-lo! As imagens dos estragos, das equipas de salvamento, e dos mortos na rua são arrepiantes. Como são as coisas: ao saber do terramoto, preocupei-me em saber onde era o epicentro, e a que distância estava do meu filho em Santiago... ah, é longe... e não pensei muito mais nisso, nem vi muitas notícias a propósito, não sei porquê, pois até costumo interessar-me pelos males dos outros e sentir-me grata por não serem os meus males... E agora venho, por acaso, encontrar o relato de alguém que viveu ESSE SISMO, e senti que conheço um pouco também aqueles que por lá conheceu! Vou pensar neles daqui para diante, e tentar imaginar que estão vivos e bem! Adorei as fotografias! Se fizer outra viagem, venha a este blog anunciá-la, vou estar com atenção para saber mais das suas andanças. Espero que tenha uma vida muito feliz, já vi que sabe apreciá-la, e por isso merece-a. Um abraço
Muito obrigado pelo comentario ! Tambem eu espero ter tempo saude e dinheiro para mais viagens e se se proporcionar, mais blogs
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